segunda-feira, 3 de julho de 2017

Cães ajudam a reflorestar áreas devastadas por incêndios no Chile





Onde um dia houve milenares florestas nativas, hoje só restam troncos e terras queimadas. Mas em uma cruzada inédita, três cadelas da raça Border Collie se encarregam de semear essas zonas devastadas pelos incêndios florestais que atingiram o Chile no início do ano, os piores já registrados no país. Um silêncio mortal invade as florestas da região de El Maule, onde em janeiro passado o fogo silenciou o trinado de aves e os uivos das raposas, que morreram ou fugiram das chamas que destruíram mais de 467 mil hectares em todo o país e deixaram 11 mortos. Mas desde março, os latidos de três cadelas Border Collie devolveram a esperança à zona, graças ao seu trabalho minucioso para ressemeá-la com sementes de árvores nativas, pasto e flores, que uma vez que germinarem atrairão para a floresta as aves e animais selvagens que fugiram do fogo. "A parte principal disto é que a fauna possa viver", diz à AFP Francisca Torres, dona das três cadelas que estão fazendo essa tarefa titânica. 'Das', de cinco anos e mãe de 'Olivia', de um ano, ao lado de 'Summer', também de um ano, saem disparadas da caminhonete de Francisca rumo ao local que devem reflorestar neste dia. Carregam no dorso alforjes repletos de sementes, que caem no solo através de orifícios enquanto correm, pulam e brincam sem se dar conta do trabalho gigantesco que realizam. Quando esvaziam as mochilas, Francisca, de 32 anos e que também é instrutora de cães para pessoas com deficiência, gratifica suas ajudantes com comida, antes de encher de novo as bolsas com sementes. Ela treinou os três exemplares para obedecerem as suas ordens e não atacarem nenhum animal silvestre. Segundo Francisca, diretora da Pewos, uma comunidade virtual sobre animais e meio ambiente com mais de 26 mil membros, os Border Collie se destacam por sua inteligência, energia e rapidez, e portanto são semeadores ideais. A utilização de cães nesta tarefa é mais proveitosa do que se fosse feita por pessoas. Os cães podem percorrer até 30 km em um dia e espalhar até 10 quilos de sementes, enquanto um humano poderia semear no mesmo período apenas três quilômetros,explica Francisca. As cadelas estão realizando esta tarefa há três meses, e já ressemearam 15 florestas diferentes da região de El Maule, onde em alguns lugares o pasto voltou a brotar, e já aparecem algumas pequenas árvores, enredadeiras e fungos, graças à umidade do inverno austral. "Passamos por umas pradarias que já estão completamente verdes, e isso é trabalho delas três, de Summer, Olivia e Das", conta Francisca, que financia essa tarefa principalmente do próprio bolso, junto com algumas doações. Ela espera que no próximo verão austral as sementes já tenham germinado, que alguns animais - como lobos, insetos, beija-flores, lagartixas, macacos e lebres - retornem às florestas, e que os prados devastados pelas chamas se transformem em pasto para as vacas, cavalos e vitelos de agricultores duramente afetados pelos incêndios. Na emergência, os voluntários da Pewos distribuíram folhagens para os animais e conseguiram veterinários para atender cães e gatos que foram queimados nos incêndios. A esperança é que, quando a primavera chegar, as flores atraiam as abelhas, que ficaram em uma situação crítica nesta região após a queima de milhares de polinizadoras vitais para a existência da vida. "A situação é super crítica porque elas não têm comida. As abelhas nesta época geralmente se alimentam de algumas árvores autóctones que nesta época ainda têm flores, e agora não há nada", afirmou Constanza, irmã de Francisca, de 35 anos. As abelhas quase desapareceram da zona, enquanto os avicultores clamam por alimentos para as poucas polinizadoras que sobreviveram às chamas. "Nestas zonas não é possível quantificar os danos, (...) o que queimou foi muitíssimo e ardeu por muito tempo", acrescentou. Pewos espera que o trabalho das cadelas permita que as florestas e pradarias recuperem em cerca de cinco anos o ecossistema existente antes dos incêndios.